
National Archives: heróis e vilões

Cândido de Oliveira: o agente «Pax» no Tarrafal

Nascido em 24 de Setembro de 1896, na vila alentejana de Fronteira, Cândido Fernandes Plácido de Oliveira, cedo ficou órfão de pai. Por causa disso entrou para a Casa Pia em 15 de Julho de 1905, onde foi educado e se fez atleta.
Funcionário dos Correios, Telégrafos e Telefones, alcançaria aí, pelos seus méritos carreira destacada.
No âmago desportivo, Cândido de Oliveira cedo ganhou justos palmarés como atleta, jogador, árbitro e treinador: campeão de Lisboa de luta greco-romana, capitão do grupo de honra do Sport Lisboa e Benfica, treinador do Casa Pia Atlético Clube e da Selecção Nacional, no Sporting Clube de Portugal, no Belenenses, no Futebol Clube do Porto, na Académica de Coimbra, no Flamengo do Rio de Janeiro.
Em 1928, a equipe nacional que se apresentou aos Jogos Olímpicos de Amsterdão foi por ele escolhida e orientada.
Sócio honorário da Federação Portuguesa de Futebol, fez parte do respectivo Conselho Técnico.
Foi, por várias vezes, seleccionador nacional.
No jornalismo, a sua estreia verificou-se em 1919, no diário desportivo «Vitória». Fundaria e dirigiria a revista «Football», os jornais «Gazeta Desportiva», «Os Sports» e «A Bola». Seria redactor em «O Século».
No campo teórico deixou vários livros de relevo: «Futebol, Desporto para a Juventude», «Futebol, Técnica e Táctica», «Sistema WM» e Segredos do Futebol».
Faleceria em Estocolmo, em 23 de Junho de 1958, quando fazia, com Ribeiro dos Reis a cobertura do Campeonato do Mundo para o jornal «A Bola».
Em 1990 o Presidente da República conferir-lhe-ia, a título póstumo, a Grã Cruz da Ordem de Mérito.
Anglófilo, seria desterrado, sem julgamento, para o Campo do Tarrafal em Cabo Verde. Com base nessa dolorosa experiência de dois anos escreveria «O Pântano da Morte», em que atou ao «pelourinho» o «Governo da Ditadura, Criador do Campo de Concentração do Tarrafal de Santiago de Cabo Verde». O livro seria publicado legalmente em 1974, pela Editorial «República».
O papel de mestre Cândido na rede clandestina aliada foi fundamental.
Desempenhava à data as funções de Inspector dos Correios.
Era de facto o agente «Pax», «H.204» (mais tarde «H.700») da rede do SOE.
O seu trabalho mereceria as melhores referências.
Cândido organizou uma rede de rádio-telegrafistas que, em caso de ruptura das comunicações oficiais, poderiam funcionar como um sistema alternativo e secreto na transmissão de informações. E, valendo-se do seu estatuto nos correios, permitia que a correspondência alemã fosse retardada por uma noite, o tempo necessário para ser fotografada pelos serviços de contra-espionagem dos britânicos.
Em 23 de Abril de 1941, John Beevor, o advogado que em Lisboa organizava a rede secreta destinada a deter um avanço alemão sobre o nosso país, comunicaria para Londres que «um novo amigo, Pax, tem sido muito útil e poderá arranjar um sistema definitivo de comunicações através de morse em vários centros da instituição na qual trabalha».
Só que a repressão haveria de se abater sobre a rede do SOE, sendo Cândido localizado após a prisão pela PVDE de Maximiano Varges.
Cândido de Oliveira pagaria assim com o Tarrafal. Para ali seria transferido em 20 de Junho de 1942. Regressado, dois anos depois, em 1 de Janeiro de 1944, mas só alcançaria a liberdade em 27 de Maio desse ano.
Havia sido demitido do seu lugar nos CTT.
Refazendo a vida, fundaria o jornal «A Bola», o jornal de todos os desportos», com o tenente coronel Ribeiro dos Reis. O número 1 sairia em 29 de Janeiro de 1945. Custava um escudo.
Sobre a sua vida pubiquei um artigo na revista do jornal que fundou, há uns anos. Homero Serpa viria a editar um livro biográfico sobre a sua pessoa. Até aí muitos pensavam que o degredo no Tarrafal tinha a ver com o facto de Cândido de Oliveira ser anti-fascista, que o era, quase ninguém sabia o que se passava quanto à ligação à causa aliada. Tenho comigo todos os documentos, na mira de um livro que talvez um dia tenha tempo para escrever.
007 no Canadá

Segundo esta versão, quando Fleming que então trabalhava nos serviços de informações da Marinha, foi convidado por William Stephenson [mais conhecido como «Intrepid»], para observar e participar no Syllabus, a acção de treino na guerra subversiva levada a cabo pelos homens do SOE em STS 103 (Campo X), ao deslocar-se todos os dias do local da sua hospedagem para o dito campo, confortavelmente conduzido por um chauffeur posto à sua disposição, topava com um visível painel a anunciar a «Saint James Bond United Church».
Talvez seja assim. Mas se o for, esta tese deita por terra uma outra segundo a qual Fleming inspirou-se no nome quando, já retirado dos serviços secretos e residente na Jamaica, na sua mansão «Golden Eye», ali encontrou um livro do conhecido ornitólogo americano James Bond, chamado «Birds of West Indies».
Camp X, Canadá

Locais de culto, os museus são sempre centros de peregrinação pelos estudiosos e pelos leigos.
Abriu o site do Museu do Campo X, sito em Ontário, no Canadá e que pode ser encontrado aqui. Conhecido não oficialmente como Campo X, esta instalação paramilitar de treino foi conhecido oficialmente por vários nomes: como S25-1-1 pela RCMP, como o Projeto-J pelas forças armadas canadianas, e como STS-103 (escola de treino especial 103) pelo SOE britânico. Estabeleceu-se em 6 de Dezembro de 1941, em Whitby, Ontário, Canadá resultando dos esforços de cooperação da Coordenação Britânica da Segurança (BSC) e do governo de Canadá. O chefe do BSC foi Sir William Stephenson. Teve um papel notável na luta contra as forças do Eixo nazi-fascista.
«Manezes», um personagem ISOS

Livros e conferências, oferecem-se

Foi também através do ciber-espaço que ontem o encontrei: chama-se Mark Baldwin, é doutorado, vende livros sobre os serviços secretos na segunda guerra mundial e, além disso, oferece-se para fazer conferências sobre criptografia na segunda guerra. O seu site recebe o nome da máquina de codificação alemã, antecessora da Geheimschreiber: www.Enigmatix-uk.com.
Os diários de Guy Liddell e o livro de Rogério de Menezes

Devo confessar o meu júbilo em ter acedido a este livro. É que um leitor mais atento daquela minha biografia de Menezes pode concluir que quando ali afirmo que os ingleses acediam clandestinamente à mala diplomática faço-o com pouco suporte documental e apenas pelo cruzamente de uns quantos dados com algumas exigências da lógica. Agora tenho a prova, uma prova acima de qualquer suspeita.
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